1-Em que cenário e momento históricos podemos situar John Langshaw Austin?
John Langshaw Austin surge no cenário da discussão sobre a linguagem num momento histórico preciso, o cenário é o da discussão sobre a linguagem surgida na Inglaterra pela chamada escola de Oxford e o momento histórico corresponde às décadas de 40 e 50. Na década de 50 despontam os trabalhos de Chomsky e os de Benveniste, além de Foucault, Derrida e Lacan.
2-Austin fortalece o estudo da linguagem ordinária. Quais são as conseqüências desse estudo na filosofia analítica e suas implicações lingüísticas?
O trabalho de Austin é chamado de iluminador por Ottoni, pois vai revolucionar não só a filosofia analítica, como vai questionar os postulados da lingüística enquanto ciência autônoma, proporcionando uma gigantesca discussão em torno da filosofia da linguagem. O caminha aberto por Austin é o fortalecimento do estudo da linguagem ordinária. Para Austin, o objetivo da filosofia analítica é estudar o funcionamento da linguagem antes de estabelecer jogos lógicos, modelos ideais que dêem conta de questões filosóficas. Subjacente às reflexões de Austin na análise da linguagem ordinária, pode-se dizer que são os filósofos e os lingüistas que criam dificuldades para o entendimento da linguagem ordinária. O desinteresse por uma linguagem ideal é um dos pontos principais que toca diretamente a um certo tipo de lingüística e de filosofia. Observa-se a partir do estudo de certas dificuldades criadas pela linguagem ordinária que uma palavra não expressa um conceito preciso ou mesmo uma frase não expressa um pensamento claro. A questão do sentido , do significado e da referência, para um certo tipo de lingüística e de filosofia, cria um impasse crucial e, até certo ponto, insolúvel entre algumas teorias da linguagem.
3-Quais outros pensadores procuraram resolver questões filosóficas discutindo a linguagem ordinária?
A questão do uso foi amplamente discutida por Wittgenstein e isso contribuiu para fortalecer o empreendimento de Austin. Outros filósofos procuraram resolver questões filosóficas discutindo a linguagem ordinária como: Strawson, Ryle e Hare.
4-Que conceitos desenvolvidos por Austin sustentarão sua inovadora argumentação? Qual será destacado por Ottoni?
Austin introduziu os conceitos de performativo, ilocucionário e de ato de fala, conceitos que fundamentarão toda sua argumentação. Tais conceitos são importantes tanto para a filosofia quanto para a lingüística. Ottoni vai privilegiar a noção de performativo como lugar de consolidação da inovadora argumentação austiniana.
5-Em que a filosofia analítica realizada em Oxford difere da realizada em Cambridge?
A filosofia analítica de Oxford difere da realizada em Cambrigde, onde filósofos como Wittgenstein e Russell, chegaram à filosofia através de um longo estudo das ciências e da matemática. Os filósofos de Oxford abordam a filosofia partindo de um profundo estudo das humanidades clássicas (grego, latim). Austin foi o mais importante filósofo no entre e pós- guerra, como Wittgenstein o foi em Cambridge.
6-O que propõe Austin em sua “virada lingüística”?
Austin é um demolidor da filosofia tradicional e também de uma lingüística tradicional. Este rompimento com o passado está evidenciado pela discussão do performativo e do constatativo, do verdadeiro e do falso. Que é o lugar onde se fundem a filosofia e a lingüística. Austin em sua “virada lingüística” propõe uma nova abordagem da linguagem que está próxima de uma “visão performativa da linguagem”. Não há uma preocupação em delimitar fronteiras entre a filosofia e a lingüística. Também não é possível pensar a linguagem humana de forma compartimentada, institucionalizada.
7-Qual é a peculiaridade das obras “How to do things with words” (HTD) e “Sense and Sensibilia” (S&S)?
A repercussão das idéias após a morte prematura de Austin, através da publicação de S&S e HTD, ambos publicados postumamente em 1962, passou a ser feita de recomposições de anotações de seus alunos e colegas. HTD foi reconstruído por M. Sbisá e Urmson e resulta de 12 palestras proferidas em Harvard em 1955 e de outras durante o curso Words and Deeds, que ele ministrou em 1952 a 1954 em Oxford e também de gravações de duas conferências, uma pela BBC e outra em Gothenberg. O segundo livro, reconstruído por Warnock, é resultado de uma série de anotações feitas em 1948 e 1949 e, ainda, de uma outra série de anotações redigidas em 1955 e em 1958 para o curso na Universidade da Califórnia.
8-Que noções, consideradas como monumento filosófico pouco combatido , são questionadas por Austin em seu artigo “Truth” ?
As noções de verdade e falsidade (p. 34).
9-Discorra sobre o ato de fala e seu triplo desdobramento.
Austin cria o ato de fala e o desdobra em três partes, em três atos simultâneos: um ato locucionário, que produz tanto os sons pertencentes a um vocabulário quanto a articulação entre a sintaxe e a semântica, lugar em que se dá a significação nos sentido tradicional; um ato ilocucionário, que é o ato de realização de uma ação através de um enunciado, por exemplo, a promessa, que pode ser realizado por um enunciado que se inicie por eu prometo..., por último, o ato perlocucionário, que é o ato que produz efeito sobre o interlocutor. Através desses três atos, Austin faz a distinção entre sentido e força, já que o ato locucionário é a produção de sentido que se opõe à força do ato ilocucionário; estes dois se distinguem do ato perlocucionário, que é a produção de um efeito sobre o interlocutor.
10-Como a noção de ação é definida por Austin?
Ação tem um significado muito preciso pelo fato de ser um dos elementos constitutivos da performatividade. A ação é uma atitude independente de uma forma lingüística: o performativo é o próprio ato de realização da fala-ação. Na discussão envolvendo a ação, Austin chamava-a de a “complicada maquinaria interna” (the complicated internal machinery), o que justifica não só a complexidade do conceito como também sua importância.
11-Explicite a conclusão de Austin de que uma afirmação pode ser um performativo.
Para entender a quebra de distinção entre o performativo e o constatativo, deve-se voltar e rever o desdobramento dos atos de fala. Os atos ilocucionários são convencionais e possibilitam a existência de enunciados performativos sem que seja possível identificar uma forma gramatical para eles, ou seja, são as regras convencionais que dão condições para que tal enunciado em tal situação seja ou não performativo, realize ou não uma ação. Daí concluir Austin que uma afirmação pode ser um performativo. Pode-se dizer que por detrás de cada afirmação há uma forma não explicitada de um performativo, um performativo mascarado. Em: “Ele é um péssimo indivíduo”, pode ser interpretado dependendo do lugar de várias maneiras: “Eu declaro que ele é um....”; ou “Eu afirmo que ele é ...” Para dar as condições de performatividade para um enunciado, identifica-se um sujeito falante que pratica a ação. Assim, as afirmações não só dizem sobre o mundo como fazem algo no mundo. Não descrevem ações, praticam-na.
12-A partir de que momento pode-se falar de uma “visão performativa” da linguagem?
A partir da quebra de distinção entre constatativo e performativo, cria-se uma nova visão da linguagem, em que o sujeito não pode se desvincular de seu objeto fala e, conseqüentemente, em que não é possível analisar esse objeto desvinculado do sujeito.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
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